Arlindo Gibson



Arlindo Xavier Gibson
ARLINDO  XAVIER  GIBSON, por Eduardo Gibson Martins

Foi um dos oito filhos de Francis Gibson e Alexandrina Constância de Albuquerque Xavier (Francis foi um dos dez filhos do casal Henry Gibson e Alexandrina Rosa de Oliveira). Nasceu prematuramente (sua mãe estava com 7 meses de gestação) na cidade de Olinda-PE, no dia 29 de fevereiro de 1896, mas ficou registrada a data de 1º de março de 1896 para evitar a problemática dos aniversários só em anos bissextos. Viveu em Olinda e Recife até 1937, quando foi transferido para o Rio de Janeiro (em razão de emprego no Banco do Brasil), cidade onde viveu até o término de seus dias, vindo a óbito precocemente, em 27 de setembro de 1948, aos 52 anos de idade, muito doente, por conta de complicações da diabetes.


Arlindo sempre foi um homem fisicamente doente, tendo sido inclusive desenganado pelos médicos aos sete ou oito anos de idade. Com reumatismo, artrite e diabetes, passou desde cedo a puxar por uma das pernas, o que não o impediu de se ligar ao futebol, visto que, segundo coluna escrita pelo imortal Barbosa Lima Sobrinho, de quem foi muito amigo, os dois e mais um amigo comum, Henrique Dória de Vasconcelos, ainda adolescentes, fundaram em Olinda um clube de várzea que, por sugestão de Barbosa, foi batizado de "Corinthians Olindense", nome de um clube que já existia na Inglaterra e que, segundo Barbosa, "provavelmente deu origem ao Corinthians de São Paulo". (Trecho de entrevista dada por Barbosa Lima Sobrinho ao CPDOC da Fundação Getulio Vargas:   B.L. - "Em certas fases da minha vida, tive muito mais interesse pelos esportes do que por qualquer outra coisa. Isso é um fato até curioso, que me preocupa muito. Entreguei me realmente até a estudos da cultura física. Eu lia muito uma revista francesa que naquela ocasião circulava. Nesse tempo eu morava em Olinda e tinha um grupo de amigos: Henrique Dória de Vasconcelos, Arlindo Gibson... Fundamos, em Olinda, um clube de futebol que, por espírito de sátira, chamamos de os Coríntians Olindenses - na época os Coríntians ingleses estavam muito em voga." 

A amizade entre Arlindo Gibson e Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho perdurou até a morte do primeiro, no Rio de Janeiro, onde os dois, já com suas respectivas famílias, se visitavam frequentemente, tendo Barbosa inclusive sido padrinho da filha caçula de Arlindo, a Dorinha.

Arlindo casou-se em Recife com a também pernambucana e descendente de ingleses Maria do Carmo Macieira Cooper (que passou a chamar-se Maria do Carmo Cooper Gibson), a Carminha. Do casamento nasceram George Francis Cooper Gibson (em 1932), que tem um filho; Arlindo Cooper Gibson (em 1934), que tem dois filhos, tendo falecido um (seriam três); e Maria Auxiliadora Gibson Martins (em 1938), que tem cinco filhos.

Arlindo & Maria do Carmo Cooper Gibson

Arlindo Gibson era dotado de um Português escorreito, dominava bem o Inglês e falava ainda o Francês. Trabalhou como contador de uma respeitada firma em Recife, vindo em seguida a ter êxito em concurso público para escriturário do Banco do Brasil, o que o fez largar o emprego anterior, mesmo tendo o dissabor de ter seu salário reduzido à metade. Preferiu, com acerto, a estabilidade do cargo público, levando posteriormente à esposa o conforto e a segurança de ser pensionista do Banco do Brasil até os 98 anos, idade em que a mesma faleceu. Tal sábia opção beneficiou ainda os filhos nos tempos difíceis após seu precoce passamento.

Tratava-se de um homem bom, admiravelmente sincero, muito honesto, correto, caridoso, amigo fidelíssimo, excelente marido e pai presente, conselheiro, carinhoso, muito embora bastante severo na educação dos filhos. Neste último item, três episódios interessantes retratam um pouco essa característica. Ei-los:

1) Certa vez, seu filho Arlindo Cooper Gibson, então com cerca de 15 anos de idade, recebera ordens expressas suas para não chegar em casa além das 22:00h. Muito jovem e namorador, acabou lhe escapando o tempo. Ao chegar em casa o pai já o esperava pronto para lhe aplicar uma boa sova, traduzida em chineladas nas mãos. Porém, conhecedor do lado magnânimo do pai, Arlindo veio com um artifício ardiloso. Tão logo o pai lhe abriu a porta, o adolescente, bom aprendiz do Inglês de seu genitor, apontou-lhe o dedo indicador com a mão em forma de revólver e lhe disse em boa galhofa: C'mon, boy, put your hands up! This is a hold-up! Com isso, surpreendido com o filho tão alegre e espirituoso, Arlindo, o pai, desarmou-se por completo e... cadê a coragem de castigá-lo? Mas foi por um triz!

2) Em outra ocasião, Arlindo comprou um grande Ovo de Páscoa para os três filhos. Sua filha M.ª Auxiliadora, a Dorinha, então com uns 05 anos de idade, não se conformou em ter que dividir aquele tesouro com os irmãos. Diante dessa insubordinação, Arlindo apenas colocou o Ovo em cima da mesa e disse severamente: "Mariazinha, esse Ovo só vai ser desembrulhado quando você concordar em dividi-lo com seus irmãos". E ponto. Lágrimas copiosas verteram-se a tarde inteirinha diante do imponente Ovo. Que tempo perdido! Arlindo nunca falava mais de uma vez a seus filhos. Ordem dada era ordem cumprida. O Ovo foi devida e fraternalmente dividido pelos três irmãos naquela mesma tarde da Páscoa de 1943.

3) No terceiro caso, Dorinha se atreveu a distrair a empregada, levando-a fora de hora para a sala da casa (algo inadmissível para a classe média "aristocrática" da década de 40). Arlindo já lhe havia prevenido naquele mesmo dia para não fazer isso. Quando soube da "arte" da filha, de 07 anos, estava recebendo a visita da cunhada Dazinha, casada com Áureo, irmão de sua esposa. Dorinha, por causa da visita, apostava em sua impunidade, mas Arlindo não titubeou e disse secretamente, ao pé do ouvido da filha: "Hoje você vai apanhar". Ciente da sentença, Dorinha passou a fazer de tudo para que Dazinha não fosse logo embora. "Fique mais um pouquinho, tia", insistia cada vez que Dazinha ameaçava ir embora. Quando o recurso não mais pôde surtir efeito, mais do que depressa Dorinha se ofereceu para acompanhar a tia até o ponto de ônibus. Mas quando voltou, percebeu que o pai já a esperava na varanda. Sem escapatória, lá vem a palmatória. Quando estava prestes a ser castigada, com as mãos estendidas e o chinelo do pai lá no mais alto, Arlindo, certamente comovido com as engenhosas manobras da filha, não pôde executar a sentença: "Você promete que nunca mais vai fazer isso?", vociferou severamente. Dorinha, toda encolhida, aceitou na hora a clemência: "Prometo, prometo, prometo sim...". O chinelo desceu, mas apenas para ser calçado.

Dorinha, na realidade, nunca sofreu castigo físico do pai, o que, entretanto, não era o caso de seus irmãos, já adolescentes. Eram os tempos duros dos anos 40.

Durante um tempo em que se desenrolava a Segunda Grande Guerra, Arlindo foi selecionado por um setor do Governo Federal para traduzir importantes documentos escritos em inglês, relacionados ao conflito. Quando se tratava de confiança, Arlindo Xavier Gibson era um nome certo.

Faleceu relativamente jovem e poderia ainda fazer muito por seu país, como o fez seu mencionado amigo e conterrâneo, Barbosa Lima Sobrinho, que (vivendo duas vezes mais!) só veio a falecer aos 103 anos de idade, ainda em atividade jornalística. Barbosa, conhecido e festejado por sua admirável coerência, chegou a referir-se ao velho amigo Arlindo Gibson, por escrito e publicamente, como "uma pessoa encantadora".

Vida longa à sua linhagem!

Eduardo Gibson Martins




Abaixo algumas noticias que encontramos em edições antigas do Jornal do Recife:

.   Em 27 de novembro de 1907, a Escola Municipal Mista de Olinda publica a relação dos alunos aprovados. No 1o. grau, encontramos Arlindo e sua irmã Beatriz.

.   Em 18 de dezembro de 1908, Arlindo está relacionado na Comissão de Noiteiros para o Septenário do Senhor Bom Jesus do Bonfim, em Olinda.

.   Em 29 de novembro de 1912, sai publicado o resultado dos exames do Gymnásio Ayres da Gama. Na relação dos alunos do 3o. ano, o registro de Arlindo plenamente aprovado em Inglês e Francês.

.    Em 10 de agosto de 1913, Arlindo (entre outros) é convidado a comparecer na 1a. seção da  Administração dos Correios, "a negócios de seu interesse".

.   Em 11 de junho de 1914 sai a relação de aprovados para o concurso de Praticantes de 2a. classe dos Correios. Arlindo foi aprovado em 2o. lugar. Vi também em notícias anteriores que Arlindo tentou anular a prova de Inglês do referido concurso, sem sucesso. Acredito que deve ter ocorrido alguma questão mal formulada nesta prova e que tirou dele o primeiro lugar.

.  Em 17 de fevereiro de 1924, a informação de que os telegrafistas da "Western Telegraph" apresentaram a revista denominada "O Urso", com 89 atos, 92 quadros e 90 números de música. Arlindo fez o papel de Aza Negra.

.   Em 29 de novembro de 1924, uma nota publicitária com o título "SALÃO RECIFE". a nota: "Com este título acaba de ser inaugurado na praça Arthur Oscar, no. 229, conforme communicação que recebemos, uma bem montada barbearia e cabellaria de propriedade do sr. Arlindo Gibson.  O novo estabelecimento tem como gerente o sr. Silvino Alves da Silva, official competente com larga experiência da arte".

.  Em 01 de outubro de 1925 o Jornal do Recife publica os proclamas de Arlindo & Maria do Carmo: "Arlindo Xavier Gibson e d. Maria do Carmo Macieira Cooper, solteiros, naturaes deste Estado, residentes na Bôa Vista".

.  Em 01 de julho de 1934 a nota de falecimento de sua sogra, d. Maria Macieira Cooper. Nela Arlindo aparece como sendo escriturário do Banco do Brasil, em Recife.